A story has been thought out to its conclusion when it has taken its worst possible turn. The worst possible turn is not foreseeable. It occurs by accident.
Embora à partida pareça um exercício
totalmente inútil prever acontecimentos futuros a partir dos
acontecimentos actuais isto pode tornar-se num excelente exercício
de análise.
Se ainda não temos o problema porquê
preocupar-nos ou, na vertente budista se temos um problema e a
solução não vale a pena preocupar-mo-nos porque o problema já
está resolvido. Se por outro lado temos um problema e não temos a solução então
não valerá a pena preocupar-mo-nos porque a solução aparecerá
eventualmente
Mas,
como mero exercício de ginástica mental consideremos um evento do
tipo Cisne Preto Neutral e sem carga emocional
associada (só no campo teórico porque na prática teria sempre).
O Cisne Preto
Este termo era uma expressão latina,
cuja referência mais antiga é atribuída ao poeta Juvenal, uma
caracterização de algo sendo rara avis in terris nigroque
simillima cygno (trad. uma ave rara nas terras, muito parecido com um
cisne negro). Quando a frase se tornou do senso comum, presumia-se que
o cisne negro não existia. A importância da frase está na analogia
com a fragilidade de qualquer sistema de pensamento. Um conjunto de
conclusões é posto em causa assim que um dos seus postulados
fundamentais é comprometido. Neste caso a observação de um só
cisne negro provocaria o desmoronar de toda a lógica subjacente, bem
como de toda a argumentação que daí germinasse.
A expressão era comum na Londres do
século 16, como uma afirmação de impossibilidade. A expressão
londrina deriva da presunção antiga de que todos os cisnes eram
brancos porque todos os registos históricos relatavam que tinham
penas brancas. Nesse contexto o cisne negro era impossível ou pelo
menos não existente. Após uma expedição liderada pelo explorador
holandês Willem de Vlamingh no rio Swan em 1697 foram descobertos
cisnes negros na Austrália Ocidental.
A Teoria do Cisne Preto foi concebida
por Nassim Nicholas Taleb
para explicar um acontecimento de impacto
desproporcionado ou um evento raro aparentemente inverosímil, para
lá das expectativas normais históricas, científicas, financeiras
ou tecnológicas.
Esse tipo de
acontecimento possui três características principais: é
imprevisível, causa um impacto enorme e, depois de ter ocorrido,
surgem frequentemente diversas explicações que o tentam afirmar
como menos aleatório e mais previsível do que na realidade
acontece. Segundo o autor, não temos consciência prévia destes
fenómenos, dado que os seres humanos estão programados para
aprender coisas especificas e não para pensar em generalidades.
Assim, não conseguimos avaliar claramente as oportunidades, nem
somos suficientemente abertos para fazermos fé naqueles que
conseguem imaginar o impossível.
Taleb vê a maioria das descobertas
científicas, eventos históricos e realizações artísticas como
cisnes negros - não direccionados e imprevisíveis. Como exemplos
cita a I Guerra Mundial, os ataques de 11 de Setembro como exemplos
de eventos deste tipo.
Curiosamente, esse livro apresenta uma
análise sobre o perigo da concentração excessiva no sistema
bancário.
Agora consideremos a natureza
imprevisível desse evento, que colocaria em causa todos os
princípios, paradigmas e quiçá algumas leis da física, que iria
abalar todos os modelos e estruturas de aquisição de conhecimentos
que certamente já não poderiam satisfazer as exigências de um
evento sem paralelo.
A própria natureza deste exercício
testa a adaptabilidade a situações radicalmente novas.
Como exemplo temos o clássico da Cultura Excession.
Nesta obra de Iain M. Banks uma
civilização avançada, numa sociedade onde a Inteligência
Artificial convive harmoniosamente com humanos numa sociedade
pós-escassez.
Saltando matreiramente por cima da
maior parte do enredo da história que a maior parte dos interessados
poderão conhecer comprando o livro, o evento central da história
prende-se com um evento fora do contexto.
Um evento fora do contexto é um
acontecimento que a maioria das civilizações se depara apenas uma
vez na sua história.
Normalmente é uma situação sem
paralelo que nunca é considerada até que ocorre, por falta de
conhecimento ou capacidade da sociedade de reconhecer que o evento
pode ocorrer, ou assumir que probabilidade de ocorrência é muito
baixa.
Abala as estruturas e a capacidade de
resposta da sociedade pois ela própria não tem capacidade, nos
moldes convencionais e linhas de pensamento (ou falta dele) com que
fomos educados, para se transformar e adaptar às circunstâncias.
Nesse caso, na ausência de evolução
a civilização pura e simplesmente encontra o seu declínio.
Como exemplo temos os casos das
civilizações da actual América latina que quando se depararam com
a chegada dos colonos europeus encontraram o seu fim (devido a
doenças e aculturação sobretudo).
E que quero eu dizer com todas estas
citações?
Que não podemos prever o futuro? Pois
não o que é uma chatice.
Mas podemos interpretar alguns sintomas
das transformações e eventos que estão a ocorrer no mundo e nosso
país em particular. Há uma clara sucessão de decisões no campo
político e económico que não estão a produzir resultados que
sejam optimizados, que satisfaçam as aspirações dos “jogadores”
quer estas sejam competitivas ou não competitivas.
A nível económico podemos
identificar:
- Sucessivas medidas dos bancos
centrais e governos para tentar tapar o buraco dos derivativos na
“Bolha de 2008” (ignorando a natureza competitiva e sem
escrúpulos do sector financeiro que manipula em prol dos seus
interesses a política nacional e internacional);
- Uma sucessão de decisões desastrosas a nível
da agricultura (alimentos geneticamente modificados cujas plantas
produzem sementes estéreis e eliminação de agentes polinizadores
pelos químicos usados) e gestão do solo agressiva agravados pelos
sucessivos desastres naturais, que estão a comprometer seriamente a capacidade de produção de alimentos;
- O ignorar de uma escassez galopante
dos recursos naturais que colide com o paradigma do infinito do
sistema monetário e de mercado;
Entre outras certamente.
A desintegração social é por demais
óbvia quer a nível do “macro” quer do “micro”.
Assusta pelo carácter repentino da
sublevação no mundo no mundo árabe por exemplo.
É meramente uma consequência da luta
de uma geração que procura o seu lugar no mundo que lhe foi tiradapela política externa do império britânico nos anos 30.
Agora essa geração procura justiça
num clima de encruzilhada e de constante colisão social e crescente
complexidade entre os interesses dos grupos religiosos,
político-religiosas e aspirações de uma população livre da
repressão para poder participar nas 6.ª feiras de raiva.
Esse exemplo de colisão entre os
interesses dos viciados em poder e as aspirações naturais do resto
da população certamente em breve será exportado para o resto do
mundo.
Porquê?
Não esquecer que o ponto de viragem
foi a degradação rápida da qualidade de vida agravada pela subida
insustentável do preço dos alimentos e das matérias-primas.
Junta-se à receita uma geração de jovens defraudados por falsas
promessas e mentiras... enfim em breve perto de si e a 3D...
Todas as decisões políticas (ou a
falta delas) e debates tão comentados ultimamente no capítulo
social e económico têm-se revelado:
1- Inconsequentes porque não atacam a
raiz do problema;
2 – Redundantes, ex.: Sucessivos
planos de austeridade para combater um falso problema quando o cerne
da questão é o próprio paradigma económico insustentável;
3- Perigosos devido ao fanatismo de
quem as propõe e é incapaz de as pôr em causa, podendo no curso
dessa alienação e da desinformação contaminada para o público em
geral conduzir ao declínio e impreparação da sociedade para
circunstâncias radicalmente novas.
Muita parra e pouca uva e a Teoria das Decisões
A teoria da decisão é uma área
interdisciplinar de estudo, com definições que relacionam
filosofia, matemática e estatística, aplicável a quase todos os
ramos da ciência, engenharia e principalmente a psicologia do
consumidor (baseados em perspectivas cognitivo-conductuais).
Relaciona-se à forma e ao estudo do comportamento e fenómenos
psíquicos daqueles que tomam as decisões (reais ou fictícios), a
identificação de valores, incertezas e outras questões relevantes
em uma dada decisão, sua racionalidade, as condições pelas quais
após um processo será levado a ter como resultado a decisão
óptima. É um campo relacionado muito intimamente com a teoria dos
jogos.
Segundo o paradoxo da escolha mais
escolhas podem levar a decisões de pior qualidade ou a uma
incapacidade de tomar decisões inclusive. É também teorizado que
pode ser causado pela paralisia na análise, real ou
percepcionada, ou talvez devido a ignorância racional.
O termo “paralisia da análise”
refere-se a “sobre-analizar” ou sobre-pensar” uma situação
(crise económica por ex.) para que uma decisão ou acção nunca
seja tomada, paralisando o desfecho. Uma decisão pode ser tratada
como extremamente complicada, com muitas opções detalhadas, para
que uma escolha nunca seja feita, em vez de tentar algo e mudar se um
problema de maiores proporções surgir.
Soa a familiar?
Com tantos debates, comentadores e
opiniões de “especialistas” e a opiniões formuladas de facto
estamos a caminhar para a paralisia.
Risco
O risco é alvo dos mais variados
estudos com aplicações na economia, psicologia e geo-estratégia.
Tema muito popularizado pelo filme Uma mente brilhante.
A nível económico a descoordenação
é clara, exemplificadas pelas guerras monetárias que estão a
suceder neste momento degradando sucessivamente o poder de compra e
alimentando a especulação e inflação, havendo orisco sério de hiper- inflação logo que esse dinheiro chegue às ruas.
Os desequilíbrios gerados geraram
assimetrias irreparáveis no já de si falacioso sistema económico e
de mercado, esticando mais a corda em relação à economia “real”.
A política internacional está um caos
e é cada vez mais cada um por si e pelos seus interesses movidos
pela ignorância como demonstrou a recente intervenção na Líbia,
mais uma guerra motivada pelos recursos energéticos, completamente
descoordenada e sem coerência para além disso.
A política nacional… bom palavras
para quê?
Com tudo isto podemos afirmar que as
circunstâncias
Recursos a decair com procura
competitiva + produtos e derivativos financeiros em níveis de
saturação (sobrevalorizão) históricos + desintegração
(desorientação!) da ordem geo-estratégica mundial + anormalidades
/ catástrofes naturais com cada vez maior intensidade e frequência
(e incompetência e negligência que soa a deliberada como em Fukoshima)
=
Risco em máximos históricos
Talvez por isso a análise fractal da economia (que não tem uma taxa de sucesso de 100% mas tem previsto
alguns ciclos e pontos de viragem) esteja a prever um Cisne Negro
após o ponto de saturação atingido a 25 de Abril (a data será só mera coincidência?)
Para quem partilha da sensação de que
estamos no limiar / fim / transição para uma nova era as provas
amontoam-se.
Citando Pessoa: não há coincidências
apenas encontros.
Apertem os cintos. Vamos descolar para
rumo ao desconhecido...
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