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sábado, 14 de maio de 2011

Cisnes Negros, Riscos Extremos, Decisões ou o Quebra-cabeças


A story has been thought out to its conclusion when it has taken its worst possible turn. The worst possible turn is not foreseeable. It occurs by accident. 


Embora à partida pareça um exercício totalmente inútil prever acontecimentos futuros a partir dos acontecimentos actuais isto pode tornar-se num excelente exercício de análise.  

Se ainda não temos o problema porquê preocupar-nos ou, na vertente budista se temos um problema e a solução não vale a pena preocupar-mo-nos porque o problema já está resolvido. Se por outro lado temos um problema e não temos a solução então não valerá a pena preocupar-mo-nos porque a solução aparecerá eventualmente

Mas, como mero exercício de ginástica mental consideremos um evento do tipo Cisne Preto Neutral e sem carga emocional associada (só no campo teórico porque na prática teria sempre).

O Cisne Preto

Este termo era uma expressão latina, cuja referência mais antiga é atribuída ao poeta Juvenal, uma caracterização de algo sendo rara avis in terris nigroque simillima cygno (trad. uma ave rara nas terras, muito parecido com um cisne negro). Quando a frase se tornou do senso comum, presumia-se que o cisne negro não existia. A importância da frase está na analogia com a fragilidade de qualquer sistema de pensamento. Um conjunto de conclusões é posto em causa assim que um dos seus postulados fundamentais é comprometido. Neste caso a observação de um só cisne negro provocaria o desmoronar de toda a lógica subjacente, bem como de toda a argumentação que daí germinasse.

A expressão era comum na Londres do século 16, como uma afirmação de impossibilidade. A expressão londrina deriva da presunção antiga de que todos os cisnes eram brancos porque todos os registos históricos relatavam que tinham penas brancas. Nesse contexto o cisne negro era impossível ou pelo menos não existente. Após uma expedição liderada pelo explorador holandês Willem de Vlamingh no rio Swan em 1697 foram descobertos cisnes negros na Austrália Ocidental.

A Teoria do Cisne Preto foi concebida por Nassim Nicholas Taleb   para explicar um acontecimento de impacto desproporcionado ou um evento raro aparentemente inverosímil, para lá das expectativas normais históricas, científicas, financeiras ou tecnológicas.  
Esse tipo de acontecimento possui três características principais: é imprevisível, causa um impacto enorme e, depois de ter ocorrido, surgem frequentemente diversas explicações que o tentam afirmar como menos aleatório e mais previsível do que na realidade acontece. Segundo o autor, não temos consciência prévia destes fenómenos, dado que os seres humanos estão programados para aprender coisas especificas e não para pensar em generalidades. Assim, não conseguimos avaliar claramente as oportunidades, nem somos suficientemente abertos para fazermos fé naqueles que conseguem imaginar o impossível.
Taleb vê a maioria das descobertas científicas, eventos históricos e realizações artísticas como cisnes negros - não direccionados e imprevisíveis. Como exemplos cita a I Guerra Mundial, os ataques de 11 de Setembro como exemplos de eventos deste tipo.

Curiosamente, esse livro apresenta uma análise sobre o perigo da concentração excessiva no sistema bancário.

Agora consideremos a natureza imprevisível desse evento, que colocaria em causa todos os princípios, paradigmas e quiçá algumas leis da física, que iria abalar todos os modelos e estruturas de aquisição de conhecimentos que certamente já não poderiam satisfazer as exigências de um evento sem paralelo.

A própria natureza deste exercício testa a adaptabilidade a situações radicalmente novas.

Como exemplo temos o clássico da Cultura Excession.

Nesta obra de Iain M. Banks uma civilização avançada, numa sociedade onde a Inteligência Artificial convive harmoniosamente com humanos numa sociedade pós-escassez.

Saltando matreiramente por cima da maior parte do enredo da história que a maior parte dos interessados poderão conhecer comprando o livro, o evento central da história prende-se com um evento fora do contexto.

Um evento fora do contexto é um acontecimento que a maioria das civilizações se depara apenas uma vez na sua história.

Normalmente é uma situação sem paralelo que nunca é considerada até que ocorre, por falta de conhecimento ou capacidade da sociedade de reconhecer que o evento pode ocorrer, ou assumir que probabilidade de ocorrência é muito baixa.

Abala as estruturas e a capacidade de resposta da sociedade pois ela própria não tem capacidade, nos moldes convencionais e linhas de pensamento (ou falta dele) com que fomos educados, para se transformar e adaptar às circunstâncias.

Nesse caso, na ausência de evolução a civilização pura e simplesmente encontra o seu declínio.

Como exemplo temos os casos das civilizações da actual América latina que quando se depararam com a chegada dos colonos europeus encontraram o seu fim (devido a doenças e aculturação sobretudo).

E que quero eu dizer com todas estas citações?

Que não podemos prever o futuro? Pois não o que é uma chatice.

Mas podemos interpretar alguns sintomas das transformações e eventos que estão a ocorrer no mundo e nosso país em particular. Há uma clara sucessão de decisões no campo político e económico que não estão a produzir resultados que sejam optimizados, que satisfaçam as aspirações dos “jogadores” quer estas sejam competitivas ou não competitivas.

A nível económico podemos identificar:

- Sucessivas medidas dos bancos centrais e governos para tentar tapar o buraco dos derivativos na “Bolha de 2008” (ignorando a natureza competitiva e sem escrúpulos do sector financeiro que manipula em prol dos seus interesses a política nacional e internacional);

- Uma sucessão de decisões desastrosas a nível da agricultura (alimentos geneticamente modificados cujas plantas produzem sementes estéreis e eliminação de agentes polinizadores pelos químicos usados) e gestão do solo agressiva agravados pelos sucessivos desastres naturais, que estão a comprometer seriamente a capacidade de produção de alimentos;

- O ignorar de uma escassez galopante dos recursos naturais que colide com o paradigma do infinito do sistema monetário e de mercado;

Entre outras certamente.

A desintegração social é por demais óbvia quer a nível do “macro” quer do “micro”.

Assusta pelo carácter repentino da sublevação no mundo no mundo árabe por exemplo.

É meramente uma consequência da luta de uma geração que procura o seu lugar no mundo que lhe foi tiradapela política externa do império britânico nos anos 30.

Agora essa geração procura justiça num clima de encruzilhada e de constante colisão social e crescente complexidade entre os interesses dos grupos religiosos, político-religiosas e aspirações de uma população livre da repressão para poder participar nas 6.ª feiras de raiva.

Esse exemplo de colisão entre os interesses dos viciados em poder e as aspirações naturais do resto da população certamente em breve será exportado para o resto do mundo.

Porquê?

Não esquecer que o ponto de viragem foi a degradação rápida da qualidade de vida agravada pela subida insustentável do preço dos alimentos e das matérias-primas. Junta-se à receita uma geração de jovens defraudados por falsas promessas e mentiras... enfim em breve perto de si e a 3D...

Todas as decisões políticas (ou a falta delas) e debates tão comentados ultimamente no capítulo social e económico têm-se revelado:

1- Inconsequentes porque não atacam a raiz do problema;
2 – Redundantes, ex.: Sucessivos planos de austeridade para combater um falso problema quando o cerne da questão é o próprio paradigma económico insustentável;
3- Perigosos devido ao fanatismo de quem as propõe e é incapaz de as pôr em causa, podendo no curso dessa alienação e da desinformação contaminada para o público em geral conduzir ao declínio e impreparação da sociedade para circunstâncias radicalmente novas.


Muita parra e pouca uva e a Teoria das Decisões


A teoria da decisão é uma área interdisciplinar de estudo, com definições que relacionam filosofia, matemática e estatística, aplicável a quase todos os ramos da ciência, engenharia e principalmente a psicologia do consumidor (baseados em perspectivas cognitivo-conductuais). Relaciona-se à forma e ao estudo do comportamento e fenómenos psíquicos daqueles que tomam as decisões (reais ou fictícios), a identificação de valores, incertezas e outras questões relevantes em uma dada decisão, sua racionalidade, as condições pelas quais após um processo será levado a ter como resultado a decisão óptima. É um campo relacionado muito intimamente com a teoria dos jogos.


Segundo o paradoxo da escolha mais escolhas podem levar a decisões de pior qualidade ou a uma incapacidade de tomar decisões inclusive. É também teorizado que pode ser causado pela paralisia na análise, real ou percepcionada, ou talvez devido a ignorância racional.

O termo “paralisia da análise” refere-se a “sobre-analizar” ou sobre-pensar” uma situação (crise económica por ex.) para que uma decisão ou acção nunca seja tomada, paralisando o desfecho. Uma decisão pode ser tratada como extremamente complicada, com muitas opções detalhadas, para que uma escolha nunca seja feita, em vez de tentar algo e mudar se um problema de maiores proporções surgir.

Soa a familiar?

Com tantos debates, comentadores e opiniões de “especialistas” e a opiniões formuladas de facto estamos a caminhar para a paralisia.

Risco

O risco é alvo dos mais variados estudos com aplicações na economia, psicologia e geo-estratégia. Tema muito popularizado pelo filme Uma mente brilhante.


A nível económico a descoordenação é clara, exemplificadas pelas guerras monetárias que estão a suceder neste momento degradando sucessivamente o poder de compra e alimentando a especulação e inflação, havendo orisco sério de hiper- inflação logo que esse dinheiro chegue às ruas.  

Os desequilíbrios gerados geraram assimetrias irreparáveis no já de si falacioso sistema económico e de mercado, esticando mais a corda em relação à economia “real”.

A política internacional está um caos e é cada vez mais cada um por si e pelos seus interesses movidos pela ignorância como demonstrou a recente intervenção na Líbia, mais uma guerra motivada pelos recursos energéticos, completamente descoordenada e sem coerência para além disso.

A política nacional… bom palavras para quê?

Com tudo isto podemos afirmar que as circunstâncias

Recursos a decair com procura competitiva + produtos e derivativos financeiros em níveis de saturação (sobrevalorizão) históricos + desintegração (desorientação!) da ordem geo-estratégica mundial + anormalidades / catástrofes naturais com cada vez maior intensidade e frequência (e incompetência e negligência que soa a deliberada como em Fukoshima)

=

Risco em máximos históricos


Talvez por isso a análise fractal da economia (que não tem uma taxa de sucesso de 100% mas tem previsto alguns ciclos e pontos de viragem) esteja a prever um Cisne Negro após o ponto de saturação atingido a 25 de Abril (a data será só mera coincidência?)

Para quem partilha da sensação de que estamos no limiar / fim / transição para uma nova era as provas amontoam-se.

Citando Pessoa: não há coincidências apenas encontros.


Apertem os cintos. Vamos descolar para rumo ao desconhecido...

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